Entrevista com Sheila Vasconcelos
A WinSocial acredita que são suas atitudes que te definem e não sua condição de saúde. Realizamos uma série de entrevistas com pessoas com diabetes que fazem a diferença, para mostrar que a vida pode ser doce para todos!
WinSocial: para começarmos, Sheila, que tal se apresentar para nós?
Sheila: Meu nome é Sheila Regina de Vasconcelos, jornalista, 49 anos e descobri o Diabetes aos 15 anos de idade. Sou casada e tenho 2 filhos (uma menina de 21 anos e um menino de 14 anos). Meus pais são vivos, sou a filha do meio e meus dois irmãos não tem diabetes. Gosto de me envolver em atividades em defesa do direito de pessoas com diabetes. Passei minha vida trabalhando em instituições financeiras, apesar de ser formada em Jornalismo. Eu descobri que tudo na vida se voltou para eu aprender a ouvir as pessoas (trabalhava com relacionamento do cliente) e com a comunicação, agora eu posso usar as mídias sociais e transmitir o que aprendi ouvindo, só que dessa vez escrevendo.
WS: Quando a diabetes é diagnosticada, é necessário mudar não só o comportamento, mas também a forma de olhar a vida. Você pode nos contar sobre como se sentiu nesse momento?
SV: Eu descobri com 15 anos. Eu era uma garota no colégio e comecei a emagrecer rapidamente. Cheguei ao médico com suspeita de infecção urinária. Quando ele mediu e deu 398 ml/L, me disse para procurar um endocrinologista porque as características eram de diabetes tipo 1. Ele me deu alguns alertas, como o de não fazer exercício e também de cuidar da alimentação. Mas como eu estava na escola isso foi bem traumático, pois precisei parar tudo que fazia. A doença é crônica e de longo prazo, então ela te acompanha em todas as fases. Não acho que é apenas a educação, eu gosto de usar as oportunidades para virar a chave. Ter a informação a nosso favor é útil. Muita gente vive com diabetes e ele fica latente, daí as pessoas criam jeitos de lidar com isso, algumas através do drama. Os que aceitam e fazem o manejo adequado vivem muito melhor.
WS: São lembranças bem fortes que tornaram você a pessoa que é. Como você as enxerga hoje?
SV: Comecei a ministrar insulina com meus pais sempre do lado, mas foi bem traumatizante. Na época, eram fitas que misturavam no reagente e pela cor dizia se tinha glicose na urina ou não. Era chato e não muito precisa. Foi muito sofrido e um dos maiores medos – chorei muito na época – foi de imaginar que não poderia ter filhos, que ficaria cega ou que teria todas as complicações. A gente aprende a doença do lado inverso, do caminho do mal cuidado e complicações, quando na verdade se a gente der o caminho certo e mostrar que é possível chegar la com saúde, a vida fica mais leve.
O medo faz com que você feche os olhos.
WS: Já se sentiu excluída de alguma forma pelo simples fato de ter diabetes?
SV: Quando eu descobri aos 15 anos, precisei de tempo para aprender sobre meus limites e eu estava a véspera de uma viagem para a Disney. Fui impossibilitada de viajar porque tinha descoberto o diagnóstico recentemente, e isso me causou um trauma muito grande por lembrar que não vivenciei esse momento devido à diabetes. Pensava que não teria filhos e isso me incomodava, mas superei as limitações. Hoje, quando alguma adolescente me pergunta sobre, eu digo que é só você saber tudo que precisa e quando precisa ser feito.
WS: O que você faz no seu dia a dia para minimizar as dificuldades encontradas e cuidar da sua saúde?
SV: Comecei numa época em que o tratamento era diferente. Hoje usamos as fitas de glicemia. Usei a vida inteira a insulina oferecida pelo sistema público, mas agora mudei para insulinas mais avançadas e depois para bomba de insulina. Pratico exercício físico com rotina. Algo que eu preciso fazer pra mim, para meu corpo e para o controle de Diabetes. O sensor me dá os alarmes para avisar se está alta ou baixa, permitindo o melhor gerenciamento do diabetes. É rápido, mas a falta de resistência de cuidar de diabetes foi o grande jeito que encontrei de lidar. É muito sobre incorporar no dia a dia para não desenvolver mais problemas, ou até ficar mais forte para enfrentá-los.
WS: Você consegue definir, em apenas uma palavra, o que é viver com a diabetes?
SV: Desafiador. É um desafio constante, mas é algo motivador a medida que você vai conseguindo vencer cada etapa.
WS: Você tem alguma história engraçada de hipo/hiper que queira compartilhar?
SV: Quando a gente tem diabetes e tem hipo perdemos um pouco a noção do que estamos fazendo. Uma vez na faculdade comecei a sentir a hipo e me dirigi ao bandejão. Entrei na fila já meio sem consciência, me serviram e eu comi ferozmente. Peguei ainda o bife da minha amiga e quando achei que era suficiente, vi outro estudante pegando a comida e percebi que tinha coração. Eu odeio coração! Mas naquela hora… ahhh, eu queria comer tudo! hahahaha.
WS: Legal. Aqui na WinSocial lançamos o movimento #fimdaexclusão contra a negação de seguros para pessoas com diabetes. O que você acha dessa exclusão feita pela maioria das seguradoras?
SV: Como eu tive essa preocupação com seguro de vida e já tive apólice de funcionária, não tive a característica de exclusão. Mas como trabalhei em uma instituição financeira, sei que isso é considerado um risco maior pela doença crônica. Mas se a pessoa for controlada, ela consegue ter uma qualidade de vida maior. Existem riscos, mas não devem desvalorizar a vida de quem tem diabetes. Nós não estamos fadados aos problemas.
WS: Já imaginou quanto você gasta com insumos?
SV: Quando trabalhava, comprava tudo, pagava as consultas, mas hoje eu gasto em média R$ 3.000,00 a R$ 3.500,00 por mês. Conforme cresci, entendi que eu precisava encontrar formas de ter garantias, caso não conseguisse dinheiro. Fui no governo atrás de tudo e consegui o tratamento sem ter despesa particular. Foi difícil e demorado, mas consegui. Mas as pessoas precisam pensar mais adiante… E se algo der errado? Eu conseguirei manter meu tratamento?
WS: Se você pudesse dar um conselho para alguém que acabou de descobrir que tem diabetes, o que você diria?
SV: Vai dar tudo certo! Diabetes é um desafio, mas tem muita gente preparada para te auxiliar a atravessar essa ponte até o outro lado do rio. Pode parecer o fim do mundo, mas na verdade é um novo caminho, mais florido, mais ensolarado, desde que abra os olhos para o Diabetes. Basta aprender, aceitar e trocar sentimentos. Muita coisa que você tá sentindo nós já vivemos. Por isso podemos te ajudar a fazer essa travessia de forma mais agradável.
WS: Algum conselho para os pais e mães de pessoas com diabetes?
SV: A vida dos pais passa a ser cuidar do diabetes do filho. Eduque a criança para ela seja o mais independente possível e pense em como garantir a independência deles em relação aos recursos. Eles saberão se cuidarem sozinhos? Terão recursos financeiros na sua ausência? Hoje eles dependem de você, mas e no futuro?
Confira outras entrevistas…