Entrevista com Daniela Olmos
A WinSocial acredita que são suas atitudes que te definem e não sua condição de saúde. Realizamos uma série de entrevistas com pessoas com diabetes que fazem a diferença, para mostrar que a vida pode ser doce para todos!
WinSocial: Daniela, para começarmos o nosso bate papo, gostaria que você se apresentasse. Nos diga seu nome, sua idade, o que você faz e quais são os seus hobbies?
Daniela Olmos: sou a Dani, Daniela. Tenho 30 anos, formada em Design Visual com ênfase em Marketing, tenho diabetes tipo 1 desde os 23 anos de idade. Meus hobbies são assistir séries, ler livros e fazer exercícios físicos.
WS: E também o blog, né, o Só Mais Uma DM1.
DO: sim, tem também o blog. Na verdade, o blog eu já considero como uma profissão, mas é uma profissão leve porque é algo que eu gosto de fazer e não faço por obrigação.
WS: Ah, legal! Conta pra gente um pouquinho sobre esse seu projeto de criação de conteúdo de diabetes…
DO: fui diagnosticada tardiamente, com 23 anos, já tinha me formado na faculdade e na época não tinha muito conteúdo como tem hoje nas redes sociais.
Quando eu fui diagnosticada, a primeira coisa que a minha médica falou foi: ”não pesquise no Google nada sobre diabetes, porque você só vai achar coisa ruim. Não quero que você se impressione, que ache que é o fim do mundo, porque lá a gente só acha coisa ruim”. E realmente, se naquela época eu fosse procurar sobre diabetes na internet eu só ia achar coisas ruins.
Quando eu resolvi criar o meu blog, foi por isso. Eu pensei ”ah, só tem coisas ruins na internet porque as pessoas só falam de coisas ruins sobre o diabetes, não tem ninguém falando das coisas boas. E foi daí que eu resolvi começar a compartilhar a minha experiência com o diabetes.
E eu nem tinha tanto conhecimento quando eu tenho hoje. O blog pra mim foi um super aprendizado, porque eu mesma fui atrás das informações para poder passar para os outros para ter a informação correta, por meio de fontes boas.
Acabei aprendendo muito sobre diabetes e isso mudou completamente o meu próprio tratamento.
Então não foi só por outras pessoas, mas por mim também, para me conectar com outras pessoas, porque eu não conhecia ninguém que tinha diabetes.
Também foi para trazer coisas boas para este mundo, para mostrar que ter diabetes não era aquela coisa ruim que diziam no Google. Eu era uma pessoa como qualquer outra, eu tinha uma profissão, me divertia, namorava, ia para balada, fazia todos os meus esportes.
Sempre fui uma pessoa que gostava de se exercitar e fazer atividades a ar livre e o diabetes não tirou isso de mim. Então eu queria mostrar para as pessoas que estavam sendo diagnosticadas que não era o fim do mundo e o blog veio a partir disso.
WS: Bacana, Dani! Você citou o momento em que você foi diagnosticada. Em nossas pesquisas sobre diabetes, percebemos que neste momento do diagnostico as pessoas passam realmente a ter uma necessidade de mudar o comportamento e mudar também a forma como ela vai encarar a vida adiante. Como foi para você esse momento, quando você recebeu o diagnóstico do diabetes, o que você sentiu e pensou? Pode compartilhar um pouco com a gente?
DO: foi um choque, como para qualquer outra pessoa. Ninguém espera receber um diagnóstico de uma doença crônica.
Eu não conhecia ninguém na mesma situação que eu, não tinha ninguém na minha família que tinha diabetes, nem do tipo 2. Eu não tinha nenhum contato e nem sabia o que era a doença.
Eu tive que aprender do zero o que era e no começo achei que ia ser limitante, tive medo de não poder ter filhos, de não poder fazer as coisas que eu fazia antes, de comer o que eu comia.
A profissional de saúde que me diagnosticou me proibia de comer um monte de coisa. Como eu não tinha nenhum conhecimento sobre a alimentação de uma pessoa com diabetes, achava que tinha que viver limitada.
Quando a gente é diagnosticado em um ponto que já está muito avançado, temos muita fome. No meu caso, eu já estava sem produção de insulina no meu corpo, então eu estava sempre com muita fome, porque já não tinha quase energia no meu corpo.
Antes do diagnóstico, eu comia 3 vezes mais do que precisava para tentar ter energia, e após o diagnóstico eu tive uma dieta muito restrita, então aquilo pra mim foi horrível porque eu sentia muita fome e chorava muito.
Foi ai que eu fui me libertando e me conhecendo. Eu tinha que entender como que os alimentos impactavam o meu corpo.
Antes do diagnóstico, eu já era uma pessoa super saudável, se comparar com a maioria da população, mas descobrir o diabetes mudou completamente o meu comportamento. Eu entendi que a minha saúde tinha que ser a minha prioridade.
Eu comecei a evitar alimentos que antes eu já evitava, mas agora num grau muito maior: fast food, refrigerantes… se antes eu evitava, hoje eu nem passo perto. São escolhas saudáveis que eu comecei a me dar conta e a buscar para mim.
A alimentação não tem nada a ver com o fato de eu ter sido diagnosticada, mas é um dos pilares do tratamento, então eu corro atrás. Comecei me envolver mais com a culinária porque sempre gostei de cozinhar e isso ajudou. Precisei desenvolver habilidades para ter uma vida saudável e sem restrições.
WS: E o que você faz no seu dia a dia para cuidar do diabetes?
DO: além do tratamento com bomba de insulina, que pra mim, é o que temos de tratamento ouro, eu procuro praticar atividades físicas pelo menos 5 por semana. Se não consigo ir na academia em algum dia, tento fazer atividades a pé para poder me movimentar naquele dia.
Além da academia, procuro fazer atividades que me acalmem no dia a dia, como a meditação, por exemplo. Eu tenho bastante insônia e eu preciso me policiar a noite para não ficar acordada até tarde, então pra mim, é importante ter uma combinação de alimentação leve com meditação à noite, para que eu tenha um sono tranquilo.
No dia a dia, procuro me alimentar de forma saudável. Sigo um plano alimentar, mas tenho as exceções de fins de semana e eventos sociais, não fico me privando de nada.
Eu faço essas escolhas para a minha saúde no geral, nem é somente por causa do diabetes, para controlar a glicemia, mas para eu manter um corpo saudável.
Eu acredito que isso seja o básico, tendo ou não diabetes.
WS: A diabetes, em si, já te impediu de fazer alguma coisa?
DO: olha, impedimento, não, mas eu fiquei muito mais cuidadosa com as coisas. Por exemplo, ao fazer trilhas, eu tenho muito mais cuidado do que tinha antes de ter diabetes. Cuidado em levar meus insumos, alimentos para tratar uma possível hipoglicemia, de medir a glicemia com mais frequência e em avisar alguém para onde estou indo.
Ter diabetes não me impediu e nem me excluiu de nada, mas tenho muito mais cuidado. É ter responsabilidade, saber que tenho uma condição de saúde em que preciso estar atenta a certas coisas que antes não precisava.
WS: Então, estamos com uma campanha rolando sobre o #FimDaExclusão que fala justamente sobre isso. A pessoa com diabetes, quando tenta comprar um seguro de vida ou invalidez, geralmente é negada pelas seguradoras. Nós aqui da WinSocial queremos acabar com isso. Aqui, se a pessoa com diabetes estiver se cuidando, ela pode contratar um seguro.
Você já se sentiu excluída, de alguma forma, pelo simples fato de ter diabetes?
DO: ainda não, mas é até engraçado porque eu costumo dizer que as pessoas com diabetes podem fazer tudo, exceto produzir insulina.
Eu estava conversando com uma colega de trabalho que também tem diabetes e ela estava me contando que ela foi fazer um financiamento para comprar o apartamento dela junto com o marido, e ela teve o financiamento negado porque na hora de fazer o seguro para garantir o financiamento, foi negada pelo simples fato de ter diabetes. Eu fiquei chocada! Ela e o marido tinham renda suficiente e tiveram que ir em vários bancos para tentar de outras formas, mas isso não foi um caso único.
Temos uma amiga em comum que passou pela mesma situação. Nós chegamos a conclusão que teremos que mentir e dizer que não temos diabetes para não correr o risco, porque todos os financiamentos precisam de seguro, e na hora de contratar o seguro, somos negados por causa do diabetes. Eu nunca sofri isso porque ainda não cheguei na etapa de querer fazer um financiamento de imóvel, mas eu já vi que isso acontece bastante.
WS: Vamos mudar o tom da conversa, vamos falar de coisa boa. Quero que você pense em uma historia engraçada de hipo ou hiper, ou até alguma do diabetes pra contar pra gente.
DO: não consigo lembrar de nenhuma sobre hipo e hiper agora! Geralmente é engraçado porque na hipoglicemia a gente perde um pouco a noção das coisas, parece que o cérebro dá uma desligada em uns neurônios pra poder manter a energia. Os meus familiares devem ter historias engraçadas porque eu sei que na hipo eu fico quietinha, dou uma desligada e eles é que dão risada.
Mas tem uma história boa. Tinha uma época em que eu não falava muito que eu tinha diabetes, por ter vergonha. Eu saía com um cara, mas como eu não usava bomba, ele nem desconfiava.
Continuamos nos falando e um ano depois ele assistiu um vídeo que fiz pro meu blog e entrou em contato comigo, falando: ”como assim essa é você????” Um aluno dele de educação física tinha mostrado pra ele o vídeo e ele respondeu: ”eu conheço ela, como assim ela tem diabetes????”.
Eu expliquei pra ele que na época eu não falava muito, mas que eu estava mudada, conversamos um monte sobre isso. Hoje em dia ele é meu amigo, nos falamos sempre. Pra mim é engraçado porque mostra como o mundo é pequeno!
WS: Agora falando dos seus insumos, você já parou pra pensar o quanto você gasta no seu tratamento?
DO: claro, com certeza! Em relação às fitas, eu tenho uma parceria com um laboratório no qual eu recebo as fitas de medir a glicemia, então não gasto com isso. Hoje eu gasto com insulina e com meus insumos da bomba, o que dá em média, uns 3 mil reais por mês. Um dinheiro muito considerável.
WS: Você tem algum planejamento financeiro, para garantir o seu futuro no geral e o seu futuro com diabetes? Quais são as atitudes que você toma hoje para garantir essa sua tranquilidade financeira?
DO: bom, e sou assalariada, então e faço um planejamento mensal com o que recebo. Como a minha prioridade é a minha saúde, tento ter sempre insumos extras em casa. Por exemplo, se eu for viajar, tenho que ter insulina extra, tenho que ter fitas extras, cânulas, sensores. Então eu sempre tenho insumos reserva, eu nunca deixo acabar para comprar o próximo.
Hoje o que eu tenho de segurança: eu sempre tenho dinheiro guardado em uma poupança à parte. Tenho uma previdência privada desde os 22 anos de idade, que fiz um pouco antes de ser diagnosticada. E hoje a empresa que eu trabalho contribui para essa previdência.
WS: Previdência Privada é um investimento que você faz para o seu futuro, já o seguros de vida e invalidez, são investimentos que você faz para o seu presente, para proteger a si mesmo e as pessoas que ama.
Os seguros são para todo mundo, independente de ter diabetes, eles servem para garantir o padrão de vida da família ou da pessoa, caso algo venha acontecer com ela. Qual é a sua opinião sobre isso?
DO: sou super favorável a isso, até porque nem tudo depende de nós. Eu tenho um caso de uma pessoa próxima que mexeu muito comigo e eu sempre conto também.
Na época que eu fui diagnosticada com diabetes, morava com uma prima. Uma manhã, ela estava voltando da academia caminhando pela calçada, e um carro subiu a calçada e atropelou ela. Ela quebrou a perna, precisou trabalhar de casa por 3 meses e fazer fisioterapia por 1 ano.
Isso mexeu muito comigo, porque eu posso fazer tudo certo, mas existem situações externas que não dependem de mim. Sair de casa já é um risco.
Pode acontecer qualquer comigo: posso cair da escada, torcer um pé, quebrar uma mão, como vou produzir, como vou trabalhar?
Foi quando eu vi que ter um seguro é realmente importante. É um seguro de vida, mas também de invalidez. A gente nunca sabe o que pode acontecer com a gente.
WS: É verdade! Se você pudesse dar um conselho para alguém que acabou de descobrir que tem diabetes, o que você diria para essa pessoa?
DO: primeiro, calma! É importante termos muita informação. A educação em diabetes é um pilar do tratamento tão importante quanto fazer o exercício físico e se alimentar bem. Ser uma pessoa saudável e ter educação em diabetes nos liberta.
A educação em diabetes faz o tratamento se tornar mais leve. Ter contato com outras pessoas que também tem diabetes para trocar experiências também é super importante.
O mais importante é planejamento. O diabetes nos mostra que é preciso planejar as coisas. Tudo tem que ter um equilíbrio, o diabetes é um equilíbrio. Não é nem 8 nem 80 e na vida também deve ser assim.
É um planejamento do dia-a-dia das refeiçoes: se eu for ficar o dia fora de casa, vou precisar preparar lanches para não comer as besteiras que tem na rua e isso ajuda a economizar também. Na semana, planejo quais dias vou fazer atividades físicas para poder me preparar.
WS: Pra finalizar com chave de ouro, complete a frase com uma palavra: Viver com diabetes é…
DO: equilíbrio!
É viver no equilibro das coisas. Não achar que pode tudo mas também não achar que não pode nada é ter equilíbrio. É isso! Dá para viver perfeitamente bem, com equilíbrio.